quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Demissão de Carrascalão antecipa crise em Timor

O anúncio da demissão do vice-primeiro-ministro Mário Carrascalão feito ontem em Díli abre a possibilidade de, a curto prazo, Timor-Leste viver nova crise política, se o Partido Social Democrata (PSD), a que pertence, abandonar o Governo dirigido por Xanana Gusmão.

Carrascalão, que tinha a seu cargo o combate à corrupção na administração pública, apresentou a demissão numa carta datada de 6 de Setembro depois de, nas últimas semanas, ter sido alvo de críticas públicas por parte do primeiro-ministro, que lhe chegou a chamar "estúpido" e "mentiroso".

A sua demissão foi aceite pelo chefe do Governo, indicou o gabinete de Xanana em Díli.

As tensões entre Carrascalão e Xanana tornaram-se públicas em Agosto quando os dois discutiram numa reunião do Conselho de Ministros. No início de Setembro, Carrascalão foi acusado de bloquear a acção dos ministérios e o porta-voz do Governo, Ágio Pereira, responsabilizou-o por isso.

Para Carrascalão, é evidente "que a corrupção, cumplicidades e nepotismo continuam a dominar" em Timor-Leste e os agentes activos da corrupção "estão a ser protegidos", escreve na carta divulgada pelo sítio do jornal Tempo Semanal.

O PSD reúne-se amanhã para analisar a situação. Caso decida abandonar a coligação, esta ficaria fragilizada, perdendo a maioria absoluta de que dispõe. Desde a tomada de posse, em 2007, a coligação tem atravessado momentos de tensão, muitos devido a casos de corrupção.

Para o líder da Fretilin, Mari Alkatiri, a ruptura entre o chefe do Governo e o seu vice é mais uma prova "do estilo autoritário" de Xanana e das cumplicidades que este está disposto a manter com "ministros incompetentes ou corruptos". Ainda que classifique Carrascalão como "bode expiatório", Alkatiri considera que este não está isento de responsabilidades na actual situação em Timor-Leste. A Fretilin defende ainda que as eleições previstas para 2012, deverem ser antecipadas para meados do próximo ano.

Na carta, Carrascalão afirma não estar no seu carácter responder a "ataques pessoais" e recorda que raras vezes foi recebido por Xanana para discutir as questões sob sua responsabilidade. Nota ainda ter elaborado uma lista de problemas - entregue ao primeiro-ministro em Abril de 2009 - a necessitarem da atenção do Governo, e que a "maioria das medidas tomadas teve como resposta silêncio, desinteresse e passividade" por elementos da administração e do Executivo.

Antigo presidente do PSD, cargo hoje ocupado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Zacarias da Costa, Mário Carrascalão assumira funções em Janeiro de 2009, com a missão específica de erradicar o fenómeno da corrupção na vida pública timorense. Anteriormente, durante a ocupação indonésia, desempenhara funções de governador do território entre 1982 e 1992.

in Diário de Notícias

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